terça-feira, 18 de maio de 2010

O dialeto caipira

Artigos
Definido: u, a, uz, us, az, as
Indefinido: um, uma, unz, uns, umaz, umas
No dialeto caipira, é o artigo que determina o número, permanecendo o substantivo inalterado.
Os artigos no plural variam de acordo com a fonética, porém, ainda sem regra estabelecida. Ex: az muié (as mulheres), uz ómi (os homens), as coisa (as coisas), us prímu (os primos) etc.

Verbos
Conjugação
· No dialeto caipira, o verbo não é flexionado como acontece na norma culta -- onde se obedece à concordância numérica -- mas fica sempre no singular.
Exemplo: Verbo SER = SÊ : eu sô, (o)cê é, ele é, nóis é, cêis é, êis é
O mesmo se dá com o verbo IR = I (e, praticamente, com todos os verbos mais usados).
Exemplo: eu vô, (o)cê vai, ele vai, nói(s) vai, cêis vai, êis vai

Infinitivo
No dialeto caipira, os verbos no infinitivo perdem o 'r':
Exemplo: Brincar: Brincá; Olhar: Olhá; Comer: Comê; Chorar: Chorá; etc.

Gerúndio
No caipirismo, o gerundio perde o 'd'.
Exemplo: Falando: Falano; Correndo: Correno; Tomando: Tomano; Regulando: Regulano, etc.

LH
No dialeto caipira, o 'LH' no meio de palavras é substituído por 'i'.
Exemplo: Falhou: Faio; Mulher: Muié; Alho: Aio; Velho: Véio; Trilho: Triio; Olhei: Oiei; etc.

'EIRO(A)'
No dialeto, a terminação 'eiro(a)' perde o 'i':
Exemplo: Dinheiro: Dinhero; Padeiro: Padero; Bicheiro: Bichero; Cadeira: Cadera, etc.

O caipira de Monteiro Lobato e o caipira de Mazzaropi



Um elevou o homem simples enquanto o outro deixou a desejar. Mesmo que seja um tabu tocar neste assunto, é certo que a massificaçã do preconceito contra o caipira foi iniciada por um dos maiores escritores brasileiros, mesmo que sem intenção.
No começo da carreira, por volta de 1918, Monteiro Lobato lança seu livro Urupês onde um dos contos aparece a figura do Jéca Tatu, um ser sem qualidades, tanto que ele compara como sendo um cogumelo que nasce em paus podres. Em 1924 o personagem vai para as embalagens e o famoso Almanaque do Biotônico Fontoura, ganhando o Brasil. Nos anos que circulou o livrinho, distribuido em farmácias, chegou a 120 milhões de exemplares. Em muitos locais era a única opção de leitura, com muita gente aprendendo a ler com a publicação.
Aos poucos, os moradores da cidade acabaram assimilando um caipira fraco, burro e até anti-social. Até os caipiras sentiram isso quando seus filhos começaram a ir estudar na cidade. É verdade que Monteiro Lobato, com sua criação, pensava em ajudar a tirar o caipira da maneira em que vivia. Mas será que o caipira queria e podia sair do seu jeito de vida facilmente?
Somente na metade do século XX, algo de novo apareceu. Usando cenários, musica e personagens de várias pequenas cidades do Vale do Paraíba, o cineasta Mazzaropi moldou um novo caipira. Satirizando um pouco, mas fazendo modificações na personagem. Surgiu então um Jéca matreiro, mas muito vivo, sabidão, dono de si e que não perdia assunto nenhum para gente inteligente.
Jéca ganhava todas e no final dos filmes sempre era o vitorioso. O sucesso reergueu um pouco a moral dos caipiras, principalmente nas cidades grandes, onde uma leva de interioranos estava chegando pra trabalhar. Tanto que Mazzaropi lançava seus filmes nos grandes cinemas de São Paulo.
João Rural